Ponte de Arame entre Monteiros e Veral ainda sem alternativa
A situação da Ponte de Arame pedonal que ligava as aldeias de Monteiros, em Vila Pouca de Aguiar, e Veral, em Boticas, e que ficou submersa devido à barragem do Alto Tâmega, continua sem respostas e sem uma alternativa que permita a travessia entre as duas localidades.
Um assunto levantado há
precisamente dez anos uma vez que desde 2015, aquando do início das negociações
para a construção de uma barragem hidroelétrica, se colocou a questão de erigir
uma alternativa, ou até a relocalização da Ponte de Arame para outra zona onde
não fosse afetada pelo caudal da barragem. Também neste ano foi lançada a
petição “A Ponte de Arame entre Monteiros e Veral deve continuar a unir as duas
aldeias” que reuniu mais de 1.200 assinaturas.
O empreendimento, pertencente à
empresa espanhola do setor energético Iberdrola, faz parte do Sistema
Electroprodutor do Tâmega (SET) com um investimento de mais de 1.600 milhões de
euros, segundo a responsável, que inclui três barragens e três centrais hidroelétricas,
a de Daivões e Alto Tâmega, no rio Tâmega, e de Gouvães, no rio Torno.
Inicialmente prevista uma
alternativa para a Ponte de Arame no decorrer do processo por parte da empresa
do setor energético, também foi envolvida a Agência Portuguesa do Ambiente
(APA), a entidade responsável pela implementação das políticas de ambiente em
Portugal.
Maria Olímpia Mourão, pertencente
ao grupo defensor Amigos da Ponte de Arame, não quer “deixar esquecer o
assunto”, uma vez que ainda não foi apresentada uma resposta ou alternativa.
A ponte foi construída em madeira
e cordões de arame retorcidos pela própria população das aldeias de Monteiros e
Veral, com o intuito de unir as duas margens do rio Tâmega que pertencem a
concelhos diferentes – Vila Pouca de Aguiar e Boticas, respetivamente. Maria
Olímpia Mourão é de Monteiros e recorda a importância da Ponte de Arame na
história das duas localidades conferindo-lhe um cunho “de identidade local”.
Era a responsável pela troca de gentes, cultura, mercadorias, trabalho e
sustento. Era também considerada uma “via de comunicação” entre as populações
aguiarense e botiquense, que utilizavam a travessia para “ir a festas,
funerais, casamentos, batizados”.
Uma das alternativas propostas
foi a de relocalizar a ponte, mas apenas como monumento, perdendo a sua função
de passagem. Não era a resposta que a população pretendia tendo sido colocada
uma segunda hipótese com a construção de uma nova ponte pedonal noutro local
que exclui a passagem de veículos.
Com o enchimento da barragem e as
chuvas fortes, a Ponte de Arame ficou submersa após o verão de 2023, e está a
“45 metros de profundidade”, diz Maria Olímpia Mourão. A alternativa, de carro,
obriga a percorrer uma distância de mais de 100 quilómetros – ida e volta. Não
se torna viável a quem, por exemplo, vive da jeira, que com a alternativa
impondo mais de uma centena de quilómetros, acaba por não compensar. Havia
inclusivamente um empreiteiro que acabava por ter um veículo de cada lado da
ponte para poder realizar trabalhos.
Como solução, a Iberdrola
“disponibiliza um táxi” para fazer a travessia entre as duas aldeias, “mas tem
de se ligar para a Iberdrola” que depois contacta o motorista que não vê com
bons olhos a situação já que, por vezes, “tem de transportar alfaias, por
exemplo, o que não é muito funcional”. A aguiarense refere ainda que não é uma
viagem agradável “com curvas e contracurvas” e que, ao fazê-la já teve de parar
por ficar indisposta.
A 18 de dezembro de 2024 Maria
Olímpia, os Amigos da Ponte de Arame e os autarcas reuniram com o Secretário de
Estado do Ambiente, na altura Emídio Sousa, que solicitou a resolução breve da
situação. Ficou marcada uma reunião para dia 8 de janeiro deste ano com a APA e
a Iberdrola “e a APA faltou e nunca mais nos disseram nada”, esclarece a
defensora da Ponte de Arame.
“As Câmaras dizem que estão do
nosso lado, mas já estou a ficar com dúvidas porque isto não anda”, lamenta
Maria Olímpia Mourão. “As Câmaras têm uma função social e aqui não existe,
neste caso, esqueceram-se completamente”. A aguiarense relembra que se trata de
uma aldeia “que precisava realmente de manter a ligação e cada vez fica mais
isolada, as pessoas não passam”.
Ana Ria Dias, Presidente da
Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, diz não ter novidades sobre a Ponte
de Arame e já pediu várias reuniões nesse sentido, mas até ao momento sem
resposta. A Iberdrola e a APA foram contactadas, mas até ao momento não foi
possível obter esclarecimentos.
Ângela Vermelho
Foto: CM Boticas
22/07/2025
Sociedade
. Partilha Facebook