Portugal violou o direito de acesso à informação na avaliação ambiental da mina do Barroso


O Comité da Convenção de Aarhus concluiu que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Norte (CCDR-N) retiveram “de maneira deliberada e infundada” informação no decorrer da participação pública no processo de avaliação ambiental da mina do Barroso, em Covas do Barroso no concelho de Boticas, projeto da Savannah Resources.

A queixa, apresentada em 2021 pela Fundação Montescola, uma organização não-governamental (ONG) espanhola, remonta ao período da consulta pública da primeira versão do Estudo de Impacto Ambiental em 2021, em que terão sido negados pedidos de acesso a documentos ligados ao procedimento de Avaliação de Impacto Ambiental.  A mesma queixa terá sido sucessiva com novos factos relacionados ao período de consulta pública do Estudo de Impacto Ambiental reformulado de 2023.

A Fundação Montescola, a associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB) e a MiningWatch Portugal foram observadoras no processo e consideram que o Comité vem “corroborar aquilo que afirmam há anos, que o processo de avaliação de impacte ambiental não garantiu o direito à participação pública, resultado da sobreposição de critérios políticos pouco escrutinados a processos de avaliação transparentes, ponderados e independentes”, referem estas três organizações não-governamentais (ONG), através de um comunicado.

O Comité considerou que a APA não respondeu ao pedido de informação ambiental no prazo estabelecido e que após a recusa de informação, a APA não informou a queixosa dos procedimentos à sua disposição para fazer um pedido de revisão da decisão. Diz ainda que a APA e a CCDR-N retiveram informação ambiental alegando um critério de recusa infundado e que a DGEG incumpriu a Convenção ao remeter o pedido para outra entidade quando se encontrava na posse da informação solicitada.

A conclusão do Comité da Convenção Aarhus foi divulgada esta quarta-feira, e aponta ainda que a APA não garantiu um período razoável para a participação pública no âmbito do Estudo de Impacto Ambiental reformulado (2023) e que não publicou todos os documentos relevantes para a participação no início da consulta pública.

Assim, refere ainda que a Legislação Portuguesa incumpre vários artigos da Convenção, recomendando alterações que permitam um alinhamento com o Tratado subscrito pelo Estado Português.

A Savannah Resources, iniciou em 2020 um processo de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) junto da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) que atribuiu um parecer desfavorável da Comissão de Avaliação em junho de 2022. A APA solicitou à Savannah uma modificação do projeto e em 2023 emitiu uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável condicionada.

Carla Gomes, da UDCB, refere que esta deliberação “é muito importante porque acaba com a ideia que as críticas que temos feito à condução do processo de avaliação são infundadas. A violação do direito ao acesso à informação e à participação pública é um motivo mais do que suficiente para anular a Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável emitida pela APA em 2023, e para começar o processo de avaliação do zero”, refere citada em comunicado.

Nik Völker, da MiningWatch Portugal, acrescentou que “as conclusões do Comité da Convenção têm consequências para além do projeto de Lítio no Barroso”, questionando “que garantias oferecem aos territórios onde decorrem ou poderão vir a decorrer novos processos de avaliação ambiental”. “Estas entidades saem descredibilizadas por via das suas ações, e isto é mau para todos. Algo tem de mudar, e a anulação da DIA seria um sinal forte nessa direção”, explica também citada em comunicado.

Também Joam Evans, diretor da Fundação Montescola referiu que a Montescola trabalhará com a UDCB e a MiningWatch” para garantir a proteção do Património Agrícola Mundial do Barroso, e que esta deliberação não seja atirada para debaixo do tapete". “Não é a primeira vez que tal acontece", recorda.  Evans também insiste que é necessário anular a DIA. “Queremos ações concretas por parte do Estado Português, bem como respostas para os problemas apresentados. A DIA tem de ser anulada e não descansaremos até o conseguirmos”.

A Junta de Freguesia de Covas do Barroso iniciou em 2023 uma ação legal para anular a DIA.  A Savannah prevê iniciar a produção de lítio em 2027.

 

Sara Esteves

Foto: DR


03/09/2025

Sociedade


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